Eu tenho aqui mais de 5 mil fotos do final de semana pra editar, mas antes preciso sentar e colocar pra fora o turbilhão de pensamentos que me fizeram perder uma noite de sono, mesmo exausta depois de dois dias intensos de trabalho.
A Super Final Feminina de Flag Football 2025 foi um sucesso?
16 equipes, de todas as cinco regiões do país, viveram um final de semana de ótimos jogos. A estrutura do torneio, que por tantos anos foi sinônimo de improviso, chuva e lama, dessa vez não deixou a desejar.
Os campos do CERET estavam impecáveis. O “envelopamento” como sempre sonhamos estava lá. Três ou quatro patrocinadores fortes, equipe de produção, transmissão ao vivo no YouTube do COB, com narração e comentaristas. “Graças a Deus!”.
Tenho certeza de que quem está chegando agora, e até quem já vive isso há anos, sentiu um calor no coração e uma satisfação enorme por ter participado. É bom demais ver as equipes cada vez mais preparadas dentro e fora de campo, apoiadas por patrocinadores e parceiros públicos e privados.
Também é bonito perceber a maturidade das atletas e equipes ao longo do tempo, e as oportunidades que o esporte tem proporcionado. Imagina que, há 13 anos, alguém toparia jogar por outra equipe “rival”? Nesse fim de semana, perdi as contas de quantas mulheres vi vestindo cores diferentes das suas origens… às vezes de equipes da mesma cidade, às vezes de estados diferentes. Aprendemos juntas, nos últimos anos, a importância da troca, da colaboração e do intercâmbio entre atletas, equipes e regiões.
Dentro de campo? Mais uma grande evolução.
Nas últimas quatro partidas, semifinais, disputa de 3º e final, os jogos foram decididos por uma posse ou menos. Teve prorrogação, virada heróica e interceptação nos segundos finais pra garantir o título.
Os placares de 80×0 ficaram no passado. Ainda existem jogos desequilibrados, mas eles já não são regra. A dominância diminuiu, e qualquer uma das quatro equipes semifinalistas poderia ter sido campeã.
Mas uma coisa não mudou: mais uma vez, uma final foi disputada pela mesma base de pessoas que jogam esse campeonato desde o começo do esporte no Brasil. Mais de dez anos se passaram. Os times mudaram de nome, as pessoas mudaram de time… mas são as mesmas pessoas.
Antes da final, uma delas comentou: “Pois é, mais uma vez estamos aqui… Acho que se a gente parar de jogar, o flag do Brasil morre.” Não, o flag não morre. Mas perderia muito.
Curiosamente (ou não), essas pessoas também fazem (ou já fizeram) parte da Seleção Brasileira, projeto que às vezes é criticado por “não desenvolver o esporte”. Vale lembrar que apesar da Seleção Feminina de Flag ter ações de desenvolvimento, o papel de uma Seleção Nacional é competir e representar o país lá fora. E isso vai bem, obrigada.
O que me tira o sono é: por quê?
Por que, depois de 13 anos desde o primeiro nacional, ainda são as mesmas pessoas disputando (e vencendo) os jogos mais importantes?
Antigamente havia a dificuldade do acesso à informação. Hoje, não mais. Ok, ainda há desafios geográficos e custos de viagem, especialmente pra quem está fora do eixo Sudeste-Centro-Oeste-Sul.
Mas por quê?
Faltam patrocinadores, comissões técnicas profissionais e mais preparadas. Gestores melhores nas equipes e federações. Atletas que entendam o quanto precisam investir nelas mesmas e no esporte pra evoluir.
Os fatores são muitos. A verdade é que ainda precisamos crescer muito como atletas, gestores, federações, arbitragem e comunidade.
Não é a CBFA com seus patrocinadores que vai salvar sua equipe do interior. É você que precisa correr atrás disso. A confederação tem os deveres e obrigações dela e muita coisa pra esclarecer e consertar… cabe a você se informar pra saber o que deve ou não cobrar dela e trabalhar pra sua equipe e sua região se desenvolverem.
As relações precisam ser fortalecidas. Precisamos de mais campeonatos, regionais, inter-regionais, mais frequentes e com adversários variados.
Volume não é desculpa ou solução. São Paulo tem o “maior campeonato estadual” do país. Quantas equipes paulistas estão no top 5 nacional? Nenhuma. O top 3 é formado por equipes que nem têm campeonatos estaduais.
Precisamos de pessoas capacitadas pra tocar projetos de todos os tipos. Não dá mais pra depender só da boa vontade e do trabalho voluntário de entusiastas, como eu mesma fiz no passado.
A gente precisa de dinheiro, sim. Mas mais importante é saber fazer a gestão e a consciência de que cada um tem seu papel dentro do ecossistema. Não dá mais pra viver de amadorismo e imediatismo.
Um projeto, uma equipe ou uma federação de sucesso não se constroem da noite pro dia. São passos diários, às vezes até alguns pra trás, pra que o avanço seja real e duradouro. Não é fácil!
Sim, o campeonato nacional de Flag ainda tem MUITO a evoluir… mas nas atuais circunstâncias, a Super Final Feminina de Flag Football 2025 foi um sucesso.
No fim, a resposta é simples: a diferença entre você e essas pessoas que estão no topo há mais de dez anos não é só a experiência e os talentos individuais… Elas não ganharam todas as vezes. É a consistência e a resiliência do grupo.
Ufa. Agora posso voltar a trabalhar!