As eleições para a presidência da Confederação Brasileira de Futebol Americano (CBFA) em 2024 mobilizaram a comunidade esportiva do Flag Football e do Futebol Americano no Brasil, destacando a importância da participação democrática em um momento crucial para o esporte no país. A seguir, registramos os principais acontecimentos e fatos que marcaram o processo eleitoral.
Convocação e Edital Eleitoral
Em 15 de outubro de 2024, a CBFA publicou o edital convocando a Assembleia Geral Eleitoral para o dia 15 de dezembro, via plataforma Zoom. O documento detalhava o seguinte:
- Data e Horário: Primeira convocação às 10h00 e segunda às 10h30, independentemente de quórum.
- Pauta: Eleição da nova Diretoria da CBFA para o mandato de fevereiro de 2025 a fevereiro de 2029.
- Sistema de Votacão: Voto paritário, distribuído igualmente entre entidades regionais, equipes e representantes (atletas, técnicos e árbitros). O voto seria individual, direto e secreto, restrito a eleitores adimplentes.
As Chapas Concorrentes
Duas chapas foram oficializadas para a disputa:
- “Continuidade e Renovação”
- Presidente: Cristiane Kajiwara (atual presidente da CBFA)
- Vice-presidente: Rakel Barros (atual gestora do Brasil Onças)
- “Participação & Transparência”
- Presidente: Moisés Bentes (diretor de Flag Football e presidente da FEFAFAM)
- Vice-presidente: Leonardo Breckenfeld (vice-presidente da FEFAPE e diretor da BFA)
Comunidade Confusa e a Junta Eleitoral
Embora atletas, árbitros e equipes comemorassem a oportunidade de votar, houve confusão sobre quem estava apto a participar. Para ajudar a esclarecer, a CBFA divulgou comunicado da Junta Eleitoral, em 4 de dezembro, um formulário de pré-cadastro para eleitores potenciais e revelou a composição da Junta Eleitoral:
- Alexandre Coimbra (Flag Kings – RJ) – Representante dos Atletas
- Felipe Takatsu (Presidente da FEFAC – DF) – Representante das Federações
- Louis Dolabella – Diretor Jurídico da CBFA
- Rodrigo Nascimento – Diretor Administrativo e Comunicação da CBFA
- Roger Cláudio – Presidente do Conselho Fiscal da CBFA
- Wilmer Martinez (Presidente do Rio Preto Weilers – SP) – Representante das Equipes
Mudança Polêmica na Forma de Votação
No dia 6 de dezembro, a CBFA surpreendeu a comunidade ao alterar a votação para o formato presencial em São Paulo (SP), gerando uma grande comoção. Atletas, equipes e federações divulgaram notas contra a mudança inesperada. Gabriela Bankhardt, atleta da Seleção Brasileira de Flag Football, embaixadora global da IFAF e NFL Flag, criticou a alteração e questionou publicamente a transparência do processo:
“Foi uma grande surpresa ver os moldes da eleição serem alterados apenas 10 dias antes do pleito. Em um país de dimensões continentais como o nosso, é irreal acreditar que uma eleição presencial em um único município, entre mais de 5 mil no Brasil, possa representar de fato toda a comunidade.
Buscamos diálogo com a junta eleitoral para esclarecer pontos pouco definidos no estatuto e sugerir uma alternativa online mais inclusiva. No entanto, enfrentamos diversas barreiras, incluindo as financeiras. Propus que a questão fosse levada à comunidade, que merecia uma comunicação mais transparente e objetiva. Infelizmente, isso não aconteceu.
É evidente que o estatuto tem falhas que precisam ser corrigidas. Saio com a sensação de que algo mais poderia ter sido feito, mas, com um processo conduzido de forma tão apressada, fica difícil encontrar soluções para os próprios problemas que a junta eleitoral gerou.
O sentimento final é de frustração. A comunidade, que há anos constrói e fortalece o esporte com dedicação inigualável, não pôde ser representada adequadamente em um dos momentos em que mais merecia.”
Lista de Eleitores Aptos
Em 14 de dezembro, a CBFA publicou a lista de eleitores aptos, destacando:
- 9 federações estaduais (AM, PA, PR, MG, SP, PE, DF, RS e RJ)
- 29 equipes
- 513 atletas e treinadores
- Nenhum árbitro
Conversamos com Alexandre Coimbra, ex-atleta da Seleção Brasileira de Flag Football que compôs a Junta Eleitoral representando os atletas de Norte a Sul do País.
“Pela primeira vez, precisei enxergar o Flag sob uma nova perspectiva. Fazer parte da junta eleitoral em uma das eleições mais importantes do nosso esporte não foi uma tarefa fácil. Ali, lidávamos com decisões que impactariam muitas pessoas.
A junta, composta por seis membros, enfrentou dificuldades para alcançar a maioria necessária em determinadas questões. Em alguns casos, o empate levou à manutenção do método de votação já existente.
Como representante, procurei sempre trazer a visão do atleta, algo que carrego há mais de 20 anos. No entanto, entendi que tudo passa por diálogo e negociação — faz parte do processo. Em um cenário tão amplo, a unanimidade é praticamente impossível.
Espero que, nas próximas eleições, os atletas tenham uma participação mais ativa nas decisões e que a comunidade consiga construir uma representação justa e coerente para todos.”
Rodrigo Nascimento, diretor administrativo da CBFA, falou sobre os procedimentos da eleição em entrevista para o Salão Oval no domingo, dia 15.
Tentamos contato com Jean Pierre, presidente da Anafab (Associação Nacional de Arbitragem), mas infelizmente não tivemos retorno até o fechamento da matéria.
Eleição e Resultados
A votação presencial ocorreu no Hotel Wyndham São Paulo Ibirapuera, das 13h às 17h, com transmissão ao vivo da apuração:
- Federações: 5 votos para “Continuidade e Renovação”; 0 para “Participação & Transparência”.
- Equipes: 15 votos para “Continuidade e Renovação”; 0 para “Participação & Transparência”.
- Atletas/Treinadores: 75 votos para “Continuidade e Renovação”; 5 para “Participação & Transparência”.
Com o placar de 3 a 0, a chapa liderada por Cristiane Kajiwara foi reeleita. Notou-se, contudo, uma adesão baixíssima ao pleito, inclusive a ausência de votos dos candidatos de oposição.
Perguntamos ao candidato Moisés Bentes sobre a sua ausência no dia da eleição:
“O primeiro ponto é o financeiro. As passagens estavam com valores exorbitantes. Todos sabemos que, em Manaus, deixar para comprar passagens de última hora encarece muito os custos. Mas essa não foi uma escolha minha — foi uma situação imposta pela junta eleitoral ao mudar, com apenas 11 dias de antecedência, o modelo de votação de online para presencial. Exigir a presença física dos eleitores, diante dessas circunstâncias, é um absurdo. A passagem que eu havia cotado de Manaus para São Paulo nesse prazo custava R$ 5.067,00.
Gastar essa quantia em uma passagem, quando tenho compromissos pessoais e financeiros, seria irresponsável. Não posso me comprometer financeiramente por causa da falta de planejamento, organização e bom senso de uma junta eleitoral que conduziu esse pleito de maneira extremamente questionável.
Além disso, minha ausência não foi apenas por uma questão financeira, mas também por princípios. Estar lá significaria endossar um processo eleitoral do qual discordo totalmente. Nem sequer houve uma republicação do edital após a mudança do formato de votação — algo que considero um absurdo. Não foi feita nenhuma retificação oficial e sequer houve publicação em um jornal de ampla circulação, uma obrigação para entidades nacionais.
Viajar a São Paulo, gastando essa quantia, seria validar um pleito conduzido de forma inadequada e sem transparência, algo com o qual não posso compactuar.”
Pela primeira vez na história do Futebol Americano e do Flag Football no Brasil, uma eleição para a presidência da Confederação contou com chapas concorrentes. Até este ano, todas as disputas anteriores foram realizadas por meio de aclamação, sem concorrência direta entre candidatos.
Em entrevista, o candidato Moisés compartilhou uma mensagem direcionada à comunidade do Flag Football nacional. Confira:
“Somos fortes e unidos! É fundamental entender que a CBFA existe por causa dos times e atletas, assim como as federações. Não o contrário. Esse entendimento é essencial para que a comunidade possa cobrar dessas entidades que façam seu trabalho da forma correta.
Mesmo que muitos tenham optado pelo silêncio por medo de retaliação, foi notável a força do Brasil neste pleito. Quando a comunidade não concordou com certas decisões, ela se posicionou. E esse posicionamento precisa continuar existindo. A CBFA precisa lembrar que não é uma empresa privada que pode agir como bem entender. Ela é uma associação e deve consultar seus associados para tomar decisões.
Meu recado para o cenário nacional é: lembrem-se da força que temos. Estamos entrando em um novo ciclo olímpico e há muito trabalho pela frente. Agora é hora de novos projetos para o football no Brasil. E quando falo de projetos, não me refiro apenas a campeonatos, mas também a novas equipes, workshops, congressos e diversas outras iniciativas. A partir de agora, não estarei mais caminhando junto à CBFA, mas seguirei como presidente da Federação do Amazonas, ainda com forte influência nacional. Pretendo conduzir projetos ao lado de grandes nomes do esporte, sempre com o intuito de somar, nunca de dividir.
Criar projetos é fundamental, e isso não deve partir apenas de mim. Há muita gente talentosa com ótimas ideias. Não precisamos da autorização da CBFA para fazer acontecer, só precisamos agir. Se houver a possibilidade de chancela da CBFA, ótimo! Mas o foco deve ser o desenvolvimento e crescimento do flag football no Brasil. E, no que estiver ao meu alcance, todos poderão contar comigo.
Aproveito para agradecer pela oportunidade de atuar na diretoria de flag neste último ano. Sem falsa modéstia, acredito que fui um dos diretores que mais se dedicou à modalidade. Foram madrugadas revisando súmulas, conferindo inscrições, criando materiais e abrindo mão do lazer para trabalhar pelo esporte. Assim como muitos outros fizeram. Não estou aqui para diminuir o esforço de ninguém, mas para reconhecer o que construí.
Foi um ano de muito trabalho e contribuição para o flag football. Sou grato pela confiança que recebi, não só da CBFA, mas principalmente das equipes. Essa confiança foi construída ao longo do tempo e, independentemente da minha posição, o flag football nacional sempre poderá contar comigo. Sempre.”
Repercussão e Próximos Passos
Perguntamos à presidente reeleita, Cristiane Kajiwara, sobre como foi lidar com a pressão e todo o envolvimento da comunidade no processo eleitoral e o que podemos esperar de seus próximos 4 anos de mandato:
“Pela primeira vez, a eleição da CBFA foi aberta para times e atletas, um marco inédito na história da entidade. A verdade é que nenhum dos lados estava totalmente preparado para esse novo modelo, e é natural que todos desejassem um processo mais bem estruturado. No entanto, acredito que esse pleito servirá de aprendizado para todas as partes envolvidas, e que, no próximo, estaremos mais preparados, com menos incertezas e preocupações.
Reconheço a necessidade de aprimorar o estatuto, e esse será um tema debatido em breve com as federações, especialmente diante das adequações que serão exigidas pelo COB.
Os próximos quatro anos serão de muito trabalho. Vamos renovar setores dentro da CBFA, implementar novos departamentos e, com isso, corrigir os pontos que ficaram em aberto na última gestão, fortalecendo ainda mais o desenvolvimento do nosso esporte.”
Conversamos também com a vice-presidente eleita, Rakel Barros, atual diretora do Brasil Onças. Embora Rakel já tenha trabalhado nos bastidores com as seleções de flag football nos últimos anos, seu nome ainda é pouco conhecido pelo público em geral. Perguntamos o que os próximos quatro anos de gestão reservam para a comunidade do flag football no Brasil:
“Agradeço o reconhecimento e a oportunidade de compartilhar um pouco da nossa trajetória. Fico muito feliz em contribuir com a matéria.
A vitória na eleição representa um equilíbrio entre continuidade e renovação. A reeleição da Cris reafirma o sucesso do trabalho realizado até aqui, mas também abre espaço para novas ideias e projetos, incluindo minha participação mais ativa no cenário político. Embora já estivesse envolvida com as seleções nos últimos anos, meu objetivo agora é atuar de forma ainda mais visível e engajada em diferentes setores.
Além disso, trago minha experiência profissional como advogada, com foco em direito desportivo e gestão esportiva, o que me dá uma base sólida para atuar estrategicamente e com eficiência nas demandas do meio esportivo.
Apesar da minha juventude, tenho plena consciência das responsabilidades envolvidas e do impacto que as decisões políticas podem ter na vida das pessoas. Estou comprometida em trabalhar com seriedade e dedicação, ouvindo a comunidade e implementando ações que gerem resultados concretos para o esporte e a sociedade.
Nos próximos quatro anos, meu foco será inovação, inclusão e o fortalecimento do esporte como uma verdadeira ferramenta de transformação social.”
Cris e Rakel conversaram com o Salão Oval após a apuração dos votos no domingo, dia 15.
Abaixo deixamos registradas as propostas da chapa vencedora divulgadas em seus perfis pessoais.
Publicação do dia 4 de Dezembro de 2024
“Viemos oficializar nossa participação nas eleições de 15 de dezembro e apresentar a nossa chapa: CONTINUIDADE & RENOVAÇÃO.
Escolhemos por esse nome porque reflete tudo o que acreditamos ser fundamental para a CBFA neste momento decisivo:
CONTINUIDADE: representa a necessidade de manter e avançar com tudo o que foi conquistado nos últimos quatro anos. Lembrem-se de como a CBFA estava em 2020: falida, sem prestígio, abandonada e sem recursos para promover eventos. Hoje, conseguimos realiza-los com regularidade, qualidade e com o apoio de uma equipe maravilhosa, e é essencial que isso continue.
RENOVAÇÃO: representa a adição ao grupo formado por mim e Rakel, pessoas com vasta experiência no esporte nacional. Entre elas, Celso Leonardo, Fernando Fleury e Geraldo Pedroso, que sempre estiveram ao nosso lado, nos apoiando em momentos de grandes dificuldades.
Por isso, dar CONTINUIDADE ao que vem sendo feito, superando obstáculos, e promover a RENOVAÇÃO dos nossos objetivos é o que a CBFA, as federações, os times e, principalmente, os atletas, precisam neste momento.”
Publicação do dia 10 de Dezembro de 2024
Competições
- Expansão dos Campeonatos Feminino, Masculino e Categorias de Base de Futebol Americano e Flag Football;
- Calendário anual bem definido e alinhado com o calendário internacional e calendário das federações, que inclua pelo menos duas competições regionais por ano em cada região.
- Aumentar o número de equipes inscritas no Campeonato Brasileiro de Futebol Americano e de Flag Football;
- Diretoria de Flag Football composta por um Diretor Geral, com 5 diretores regionais eleitos em conjunto com as federações. Expandir o formato atual de competição com mais jogos por região, oferecendo a oportunidade de mais cidades sediarem os jogos. Implementar a divisão acesso para equipes iniciantes de Flag Football, garantido a igualdade de condições de disputa.
- Apoiar as federações a implementar e executar os campeonatos estaduais de Futebol Americano:
- Diretoria de Futebol Americano composta por um diretor geral, com 5 diretores regionais eleitos em conjunto com as federações. expandir o formato atual de competição com mais jogos por região, oferecendo a oportunidade de mais cidades sediarem os jogos.
Desenvolvimento
- Capacitação, treinamento equipes, atletas, arbitragem;
- Fomentar os programas regionais de acesso ao esporte nas categoriais de base, através de clínicas e treinamentos;
- Criação do cbfa – time arbitragem;
- Certificação de treinadores através do projeto CBFA Academy, programa já implementado;
- Criação do departamento mulher no esporte;
- Criação do departamento de logística e staff nacional e estadual, responsável por unificar e executar os eventos e campeonatos.
Governança
- Compliance e transparência: implantação de uma política com auditorias anuais e divulgação de relatórios financeiros;
- Criação do Comitê de Atletas, Treinadores e Times, nacionais e estaduais garantindo a representação nos departamentos CBFA;
- Criar, em parceria com as federações, um fundo de desenvolvimento regional, garantindo que recursos captados sejam aplicados diretamente nos estados;
- Estabelecer, com apoio das federações, um programa de embaixadores do esporte, incluindo ao menos um atleta por estado;
- Publicar relatórios trimestrais de progresso das metas e eventos, com reuniões regionais para revisão e ajustes;
- Implementar o departamento de ouvidoria.
